domingo, 26 de abril de 2020

Adaptação


A vida do cristão é uma vida de oração. Sempre disse que eu não sabia orar, na verdade queria dizer que tinha dificuldade com modelos padronizados, rótulos. Mas do meu modo, tenho colocado meus dias nas mãos de Deus, e apesar de um histórico imenso de situações, às vezes parece novidade o que me ocorre.

É normal pedirmos livramento de certas situações ruins, mas é muito triste quando no percurso acabamos perdendo outras coisas que julgávamos muito boas. E não dá para contestar, não é? Deus sabe de todas as coisas, e como diz a palavra de Deus: “sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito. Romanos 8:28

O mesmo capítulo de Romanos (8:26) também diz que “não sabemos o que havemos de pedir como convém” e que o “Espírito intercede por nós”. Fico imaginando quantos movimentos se deram ao meu redor para atingir certos resultados tão além do que eu tinha pedido. Por outro lado, quão reconfortante é saber que Deus está comigo! Graças ao Senhor Jesus, e sua preciosa obra na cruz, não preciso temer o juízo de Deus e posso descansar no Seu consolo.

As coisas ruins já não terão mais alcance. Não podemos nos adaptar a esse mundo (Rm 12:2) e responder na mesma moeda. “Minha é a vingança; eu recompensarei, diz o Senhor”. (Rm 12:19). “E tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como ao Senhor, e não aos homens” (Col 3:23). Deus permitiu, pois ninguém tem poder para pesar a mão sobre os filhos de Deus sem autorização do Criador. Os primeiros capítulos do livro de Jó e o episódio do Senhor Jesus com Pilatos mostra isso. 

Graças ao Senhor Jesus tudo se fez novo. Que seja feita a Tua vontade assim na Terra como nos Céus!

domingo, 12 de abril de 2020

Pensamentos Perversos


No início deste mês saiu uma notícia dizendo que o Presidente das Filipinas mandou a polícia atirar para matar quem descumprisse regras de isolamento devido ao Coronavírus. Li alguns relatos escandalizados com a notícia, eu mesma não vi lógica no raciocínio, afinal, se o isolamento é para – supostamente – salvar vidas, por que matar à tiros tem primazia contra o contágio do vírus, que por si só é letal para a minoria dos contaminados? Quando é que ir e vir foi constituído crime para justificar ação de polícia seja para matar, seja para prender? E não está faltando muito para que a pretensão do presidente das Filipinas chegue ao Brasil. Caiu nas graças de muitos a ideia de colocar na conta do vírus a justificativa para extravasar sentimentos bem autoritários e, por que não dizer, cruéis.

Citei muitas vezes aqui a obediência às autoridades, e as mantenho. Mas acredito que cabe uma ressalva nesta situação. Como escreveu Mario Persona: “um policial ou soldado cristão deve buscar a orientação de Deus de como agir. Veja o caso dos alemães durante a 2a. Guerra. Obviamente eles estavam sob uma autoridade superior, mas essa autoridade ordenava que matassem judeus e ciganos inocentes, não por terem praticado algum crime, mas simplesmente por serem de outras etnias. Neste caso um cristão devia obedecer primeiro a Deus do que aos homens. Não deveria se sujeitar às ordens de Hitler, embora isso provavelmente lhe custasse a própria vida”.

Há quem possa dizer que não é inocente quem rompe o isolamento, pois está se colocando em risco, e podendo ao se contaminar, transmitir o vírus para outras pessoas. Sendo assim não são inocentes jornalistas, motoboys, farmacêuticos e todas as pessoas que estão trabalhando nos chamados serviços essenciais. Diriam ainda: mas estes estão autorizados! E o risco de contaminação, por acaso, não é o mesmo? E se não há crime, não há inocentes ou culpados! Ao menos no Brasil, no que diz respeito à lei de enfrentamento ao Covid-19 temos:

Art. 2º Para fins do disposto nesta Lei (13.979 de 06/02/2020), considera-se:
I - isolamento: separação de pessoas doentes ou contaminadas, ou de bagagens, meios de transporte, mercadorias ou encomendas postais afetadas, de outros, de maneira a evitar a contaminação ou a propagação do coronavírus; e 
 
II - quarentena: restrição de atividades ou separação de pessoas suspeitas de contaminação das pessoas que não estejam doentes, ou de bagagens, contêineres, animais, meios de transporte ou mercadorias suspeitos de contaminação, de maneira a evitar a possível contaminação ou a propagação do coronavírus.
Não há na lei federal fundamento que impeça o direito de ir e vir geral, são situações específicas. Existem outros critérios na lei, mas não vem ao caso nesse post. O objetivo é outro: faz sentido, nesse contexto, matar para evitar mortes? Não se trata nem de justiça com as próprias mãos. É suposto justo que a polícia possa matar quem põe em risco a vida de terceiros simplesmente ao se locomover e em hipótese aumentar o contágio, ao passo que se supõe igualmente justo, soltar da prisão pessoas que por lei foram responsabilizadas por crimes - inclusive homícidios e estupros - para que não se contaminem no isolamento social da cadeia! Não parece óbvio a corrupção dos valores? O real problema não é social é espiritual. Sem um princípio condutor seguro, as pessoas são levadas por todo tipo de opinião que pareça correto aos seus próprios olhos, que por natureza é cega aos princípios de Deus desde que o pecado entrou no mundo.

As perspectivas das pessoas em plena pandemia está muito curta. Que diferença faz morrer de Coronavírus ou “morte natural”, se na prática toda morte é resultado de uma única coisa: o pecado? "Porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna, por Cristo Jesus nosso Senhor". Romanos 6:23. Devemos por isso descuidar da saúde, da higiene e dos hábitos alimentares, por que o que importa é o céu? De maneira nenhuma, mas qual importa mais? O que se passa no coração de quem concorda em abater um sujeito a tiros por simplesmente circular pela rua em tempos de pandemia? O que mais se vê são pessoas desejando a morte dos rebeldes da quarentena. O que faz dos obedientes mais dignos que os rebeldes, se na prática, tanto uns quanto os outros terão o mesmo destino se não tiverem fé nAquele que pagou pelos seus pecados na cruz? O que tem por traz desse tipo de sentimento? Será que já não há um mal muito mais nocivo que Covid-19 corroendo o coração e a alma das pessoas e que as circunstâncias só estão ajudando a trazer à luz? Como está o teu coração nesta quarentena?

Estas seis coisas o Senhor odeia, e a sétima a sua alma abomina:
Olhos altivos, língua mentirosa, mãos que derramam sangue inocente, 
O coração que maquina pensamentos perversos, pés que se apressam a correr para o mal,
A testemunha falsa que profere mentiras, e o que semeia contendas entre irmãos.

Provérbios 6:16-19

sábado, 4 de abril de 2020

Barulho no Céu


Hoje acordei ouvindo um barulho no céu. Era o barulho de um balão que alguém soltou. Mais tarde, fui dar uma fuçada rápida no Twitter e vi no Trends: #barulhonoceu. Pessoas em vários cantos dizendo que ouviram um barulho no céu esta manhã. Fora o balão, não ouvi nadinha! Lendo alguns Twittes dessa hashtag, vi muitos falando em Apocalipse, Arrebatamento, e coisas do tipo. As pessoas realmente não têm noção do que é o cristianismo verdadeiro! Alguns twittes me deixaram muito reflexiva:
“Escuta aqui, Deus, eu lutei demais pra entrar em uma faculdade e ainda nem tive um relacionamento que desse certo, e n posso morrer agora cara pfv, segura mais uns 20 anos aí #barulhonoceu”.

“Oi Deus aqui é a Bruna de novo, queria pedir pra aguentar mais um pouco. Queremos subir, porém eu não tenho psicológico pra passar por um arrebatamento agora. Ta bom? Bj, fique com Deus, Deus. #barulhonoceu”

“#barulhonoceu deus [sic], me explica qual é dessa palhaçada, eu ainda nem vivi meu romance adolescente, por favor tenha piedade da sua filha”

“Gente, não me venham com essa de quem só ouviu [sic] vai pro céu. Já sofri demais nessa terra”.

Não convém continuar com as descrições. Fica claro que a esperança e o coração de muitos está fixado na terra e nas coisas deste mundo, como faculdade, relacionamento ou até preparo psicológico! Onde já se viu, precisar de preparo psicológico para estar com o Senhor? Tua Palavra diz que seremos transformados!

Eis aqui vos digo um mistério: Na verdade, nem todos dormiremos, mas todos seremos transformados;

Num momento, num abrir e fechar de olhos, ante a última trombeta; porque a trombeta soará, e os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados.

1 Coríntios 15:51,52
Para quem pensou no Arrebatamento, creio que a maioria não sabe do que está falando. Para quem falou de Apocalipse ou Tribulação, mesmo também achando que eles não sabem do que se trata, acho que estão certos em querer adiar este dia. Com tanta ousadia nas palavras, parece que são incrédulos, usando um contexto bíblico para aparecer no trends da rede social, sem qualquer respeito à Palavra de Deus. Logo é bom que este dia seja adiado, para quem sabe dar tempo que se convertam e creiam no Salvador.

A mim não preocupa o prenúncio do apocalipse que muitos anunciam. Também não acho que quem acredita que vai para o céu é presunçoso. Minha fé em Cristo não é mérito meu, é obra dEle no meu coração, e no coração de cada crente em cada canto do mundo. Entendam crente, como aquele que crê em Cristo, independentemente da religião cristã ao qual possam estar ligados. As pessoas gostam muito destes fenômenos; nada disso importa.

Por outro lado, foi interessante este acontecimento – não o barulho, que não ouvi, mas a hashtag – porque me vi um pouco distraída da espera pelo Senhor! O cristão não precisa ter medo da vinda do Senhor para nos levar para o céu! Ser cristão é crer que o Senhor Jesus pagou pelos nossos pecados na cruz, “Portanto, agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus”. Romanos 8:1. O que pode ser mais importante para o cristão que estar com Cristo?

Será que nossas afeições estão nos prendendo a atenção onde não deveria? Será que o desejo mesmo que sincero e positivo de formar uma família faz tocar secretamente uma vontade íntima de que esta grande hora possa ser adiada, a fim de ganharmos tempo para quem sabe, conquistar o que queremos? Será que concluir uma faculdade tem consumido mais nossas energias que as coisas que são do alto? Será que nosso trabalho, ou o direito (ou dever, sei lá) de ficar em casa na quarentena tem nos tomado de assalto a atenção que deveria ser para quem está coordenando tudo isso? Será que tomar partido das medidas A ou B que autoridades tomam em relação ao Covid-19 é relevante? É para se pensar.

Porque o mesmo Senhor descerá do céu com alarido, e com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus; e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro.

Depois nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor.

1 Tessalonicenses 4:16,17

sexta-feira, 3 de abril de 2020

Não vos inquieteis pelo dia de amanhã


Por razões óbvias – pelo menos para quem me conhece – nunca gostei de zoológico, aquário ou gaiolas. Dizia: de bicho preso já basta eu! E olha só, ontem vi pessoas fazendo coro comigo! Isolamento social é uma realidade velha conhecida, ela não me espanta e não me causa pânico. Claro, reconheço que a causa é outra, meu isolamento anterior atingia só a mim, familiares e sem nenhum prejuízo a algumas pessoas que me “socorreram” nos tempos de escola. Inclui aspas, porque socorrer não é bem a palavra. Alguns deram uma forcinha quando minha consciência tinha ido passear para um lado enquanto o corpo caminhava para outro, ou caiu em estado de poesia, como romantizou Mario Quintana.

Pode ser meio chato eu ficar repetindo isso. Mas está sendo inevitável a associação dos fatos. O objetivo comum é o mesmo: isolar para preservar. Preservar quem do que, é questionável. Mas lá no passado só me cabia obedecer àqueles que exerciam autoridade sobre mim – no caso minha mãe, e aqueles que me sustentavam. E aqui, aos poucos começou toda a minha trajetória para ganhar forças para romper o isolamento.

É fácil sustentar crianças e adolescentes. Agora experimenta sustentar adultos improdutivos para ver se a coisa não muda de figura! Dos 18 anos em diante era o que me tornei, e esta experiência é uma das mais terríveis possíveis. “Como assim?” - Lamentava. “Eu quero trabalhar! Eu não pedi para ninguém me sustentar, eu não pedi por doença nenhuma. Estão me matando para eu não morrer!” Doenças psicológicas podem matar. A baixa imunidade me inclui no grupo de risco, tudo pelo isolamento social na fase onde crianças e jovens precisavam mais é se contaminar para criar anticorpos! E isso me deixa bem na mira do Covid-19, que passou raspando... hoje não Coronão!

Ninguém me liberou oficialmente do isolamento. Fui escapando aos poucos. Vencendo pelo cansaço. É possível que eu tenha feito algumas coisas erradas neste período, para burlar o estado das coisas, contra o tempo determinado por Deus, que acreditava – na minha insensatez – estar demorando demais. Apesar disso, foi um momento muito feliz da minha vida, que aproximou o Senhor Jesus de mim, visto que eu jamais faria o movimento contrário. Mesmo na minha teimosia, o Senhor me consolava: E disse-me: A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza. 2 Coríntios 12:9. Todas as obras das minhas mãos foram frustradas até que Deus quis fazer acontecer, e o mais belo é que tudo começou com uma visita inesperada de um amigo de infância (de antes de tudo). Nunca que eu pensei em receber aquela visita, naquele dia, naquelas condições. Mas ela veio, ali foi o sinal para eu agarrar a oportunidade que ele trazia, e era o último dia possível para eu aderir ao que ele me anunciava...

Tendo ainda mais forte que naquela época a confiança no nosso intercessor direto -
 o Senhor Jesus - junto ao Pai, e sabendo da minha humilde experiência e tudo e todos que Deus moveu em meu auxílio, de boa ou má vontade fizeram exatamente o que precisava ser feito. Esse mesmo Deus não há de desamparar pessoas de um país inteiro, para não dizer nos continentes, adultos improdutivos, que em sua maioria não está nesta condição por preguiça, não por crerem que é obrigação do Estado ou dos empresários o seu sustento. Mas por força das circunstâncias e obediência às determinações das autoridades. Certamente esses dias estão trazendo uma infinidade de aprendizado.
Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que crêem no seu nome; João 1:12
Todos aqueles que crêem no Senhor Jesus, na boa nova do evangelho, são feitos filhos de Deus! Se nosso pai terreno, por pior que seja, não nos deixa morrer à míngua (salvo exceções), quantas bençãos o Pai do Céu não guarda para nós? Pois se vós, sendo maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais dará o Pai celestial o Espírito Santo àqueles que lho pedirem? Lucas 11:13. Numa geração que desaprendeu a obediência e a paciência, é possível que esta quarentena esteja servindo para baixar a bola de muitas almas mal-acostumadas a terem tudo na hora. Porque o Senhor repreende aquele a quem ama, assim como o pai ao filho a quem quer bem. Provérbios 3:12.

Tenham calma! Aflições fazem parte. É possível que muitos já estejam contaminados sem nem saber, pois estão assintomáticos, outros vão conseguir fugir da contaminação por muito tempo, e muitos que poderão ser contaminados! Há países em estado avançado no desenvolvimento da vacina, já existem medicamentos sendo aplicados com sucesso mesmo aos casos graves. Calma! O que tiver que acontecer vai ocorrer com quarentena horizontal, vertical ou sem quarentena. Se você não crê na boa notícia a que a Bíblia dá testemunho, creio que o Coronavírus é o menor dos seus problemas, e não pelo vírus ser microscópico, que em seu maior potencial letal só pode fazer mal ao seu corpo. E a tua alma?

Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã, porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal. Mateus 6:34

quinta-feira, 2 de abril de 2020

Completamente Perdido


Cristo Consumou Tudo!

Assim sucede, em todos os casos, com o pecador. "Deus é tão puro de olhos, que não pode ver o mal, e a vexação não pode contemplar" (He 1:13); e contudo, desde o momento em que um pecador toma o seu verdadeiro lugar, como aquele que está completamente perdido, culpado e arruinado — não tendo um único ponto em que o olhar da Santidade Divina possa fixar-se com complacência — como um ser tão mau que não pode ser pior, toda a questão é pronta e divinamente solucionada. A graça de Deus é para os pecadores; se eu reconheço que sou pecador, sei que sou um daqueles que Cristo veio salvar. Quanto mais claramente alguém me demonstra que sou um pecador, mais claramente me prova o meu direito ao amor de Deus e à obra de Cristo. "Porque também Cristo padeceu uma vez pelos pecados, o justo pelos injustos, para levar-nos a Deus" (1 Pe 3:18). Logo, se eu sou "injusto", sou um daqueles por quem Cristo morreu e tenho direito a todos os benefícios resultantes da Sua morte. “Na verdade, não há homem justo sobre a terra", e, visto que eu estou "sobre a terra" é evidente que sou "injusto"; é também evidente que Cristo morreu por mim — que sofreu pelos meus pecados.

Portanto, visto que Cristo morreu por mim, possuo o feliz privilégio de entrar no gozo imediato dos frutos do Seu sacrifício. Isto é tão claro quanto o pode ser. Não requer esforço algum para ser compreendido. Não se me exige que seja senão o que sou. Não sou chamado para sentir, experimentar ou realizar qualquer coisa por mim mesmo. A Palavra de Deus assegura-me que Cristo morreu por mim tal como sou, e se Ele morreu por mim eu estou tão seguro como Ele Próprio está. Não existe nada contra mim. Cristo satisfez toda a justiça divina. Não só sofreu por causa dos meus "pecados", mas para tirar o pecado. Aboliu todo o sistema em que, na qualidade de filho de Adão, eu me encontrava, e colocou-me numa nova posição, associado com Ele Próprio, e ali estou, diante de Deus, livre de toda a imputação de culpa e do temor do juízo divino.

Como posso saber que o Seu sangue foi derramado por mim? Pelas Escrituras. Fonte bendita, segura e eterna de conhecimento! Cristo sofreu por causa dos pecados. Eu tenho pecados. Cristo morreu, "o justo pelos injustos". Eu sou injusto. Portanto, a morte de Cristo diz-me respeito tão clara e completamente como seu eu fosse o único pecador da terra. Não é uma questão de eu me apropriar da morte de Cristo ou da minha experiência. Muitas almas atormentam-se com estas ideias. Quantas vezes ouvimos expressões como estas: "Oh! eu creio que Cristo morreu pelos pecadores, mas não sinto que os meus pecados estão perdoados. Não posso aplicar o perdão a mim próprio, não posso apropriar-me dele nem experimentar os benefícios da morte de Cristo". Tudo isto vem do ego e não de Cristo. É sentimento e não conhecimento da Escritura.

Se examinarmos o santo volume do princípio ao fim não encontraremos uma só palavra que nos fale em sermos salvos por compreensão, experiência ou apropriação. O evangelho adapta-se por si a todos os que reconhecem estar perdidos. Cristo morreu pelos pecadores. Isto é precisamente o que eu sou. Portanto, Ele morreu por mim. Como sei isso? Será porque o sinto? De modo nenhum. De que modo, pois? Pela Palavra de Deus. "Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras... foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras" (1 Co 15:3 - 4). Assim tudo se cumpre "segundo as Escrituras". Se fosse segundo os nossos sentimentos, seríamos muito infelizes, porque os nossos sentimentos não duram um dia; mas as Escrituras são sempre as mesmas. "Para sempre, ó Senhor, a tua palavra permanece no céu." "Engrandeceste a tua palavra acima de todo o teu nome." Sem dúvida, a experiência, o sentimento e o poder de compreensão são coisas muito agradáveis, mas se as colocarmos no lugar de Cristo, não as teremos, nem Cristo, que no-las dá. Se estou ocupado com Cristo, verei resultados; mas se ponho esses resultados em lugar de Cristo não aproveitarei os resultados e não terei a aprovação de Cristo.

Esta é a triste condição de milhares de pessoas. Em vez de descansarem sobre a autoridade imutável das "Escrituras", contemplam-se a si próprios, e, por isso, andam sempre indecisos e por consequência são infelizes. Um estado de dúvida é um estado de tortura. Mas como poderei libertar-me de dúvidas? Crendo simplesmente na autoridade divina das "Escrituras". De quem dão testemunho as Escrituras? De Cristo (Jo 5). Declaram que Cristo morreu por nossos pecados, e que ressuscitou para nossa justificação (Rm. 4). Isto resolve tudo. A mesmíssima autoridade que me diz que sou injusto, também me diz que Cristo morreu por mim. Não há nada mais claro do que isto. Se eu não fosse injusto a morte de Cristo de nada me aproveitaria, mas visto que sou injusto é divinamente apropriada e destinada à minha alma. Se eu estiver ocupado comigo próprio ou com alguma coisa a meu respeito é evidente que não tenho feito inteira aplicação espiritual de Levítico 13:12 -13. É porque não tenho recorrido ao Cordeiro de Deus tal como sou. Quando a Lepra cobria o leproso desde a cabeça aos pés, então, e só então, ele estava em verdadeira posição para a graça. "Então o sacerdote examinará, e eis que, se a Lepra tem coberto toda a sua carne, então declarará limpo o que tem a mancha: todo se tornou branco: limpo está". Preciosa verdade! "Onde o pecado abundou, superabundou a graça". Enquanto nos parecer que há em nós alguma coisa que não está afetada pela terrível enfermidade, não deixamos de nos atribuir algum mérito. É só quando a nossa verdadeira condição se nos torna evidente que realmente compreendemos o que significa salvação pela graça.


Autor: C. H. Mackintosh, extraído dos estudos sobre o livro de Levítico, 1978, 2ª edição.

quarta-feira, 1 de abril de 2020

O isolamento do leproso


Escrevi no post anterior, que durante o período em que estive sob suspeita de Coronavírus no hospital pude ter uma noção do que sentia um leproso nos tempos do Antigo Testamento. Foi um exagero da minha parte, para ilustrar a ideia do perigo de contágio iminente da doença que eu podia estar carregando em mim e o isolamento forçado. É interessante notar que, segundo a Bíblia, o isolamento era requerido do leproso, já devida e cuidadosamente avaliado pelo sacerdote como tal, para que não contaminasse o resto da congregação de Israel. Não era a congregação quem tinha que se isolar. 


Hoje lembrei de um livro muito precioso que li, contendo reflexões do livro de Levítico sobre o leproso. Achei que valia a pena compartilhar:

A Lei do Leproso

Duas coisas requeriam a solicitude e vigilância do sacerdote, a saber: a pureza da congregação e a graça que não podia admitir a exclusão de qualquer membro, salvo por motivos claramente determinados. A santidade não podia permitir que continuasse dentro da assembleia qualquer pessoa que devesse ser excluída; e, por outra parte, a graça não podia permitir que estivesse fora quem devia estar dentro dela. Por isso, o sacerdote tinha a mais instante necessidade de ser vigilante, calmo, sensato, paciente, terno e muito experiente. Certos sintomas podiam parecer de pouca importância, quando, na realidade, eram muito graves; outros podiam parecer Lepra, sem o ser. Era preciso a maior atenção e sangue-frio. Um juízo precipitado ou uma conclusão demasiado apressada podiam conduzir a sérias consequências, quer para a congregação quer para qualquer dos seus membros.

Isto explica a repetição frequente de frases como estas: "O sacerdote examinará" — "O sacerdote encerrará o que tem a praga por sete dias" — "O sacerdote ao sétimo dia o examinará" — "O sacerdote o encerrará segunda vez por sete dias" — "O sacerdote «ao sétimo dia, o examinará outra vez" — "E o sacerdote o examinará" — "Então o sacerdote o declarará por limpo". Nenhum caso devia ser julgado ou decidido precipitadamente. Não se devia formar uma opinião por ouvir dizer. O exame pessoal, discernimento sacerdotal, tranquila reflexão, estrita adesão à Palavra escrita — o guia santo e infalível —, todas estas coisas eram formalmente requeridas do sacerdote, se queria fazer um juízo reto de cada caso. Em todas as coisas ele não devia deixar-se guiar pelos seus próprios pensamentos, sentimentos ou sabedoria. A Palavra de Deus continha instruções minuciosas, estabelecidas para se submeter a elas. Cada pormenor, cada característica, cada movimento, cada variação, cada sombra e caráter, cada sintoma particular e cada afeição — tudo estava ampla e divinamente previsto; de sorte que bastava que o sacerdote conhecesse bem a Palavra de Deus e se conformasse com ela em todas as coisas para evitar erros. Já dissemos o bastante quanto ao sacerdote e suas santas responsabilidades.

A Lepra

Consideremos agora a praga da Lepra e o seu desenvolvimento numa pessoa, no vestuário ou na habitação. Considerando esta doença sob o ponto de vista físico, nada pode ser mais asqueroso; e, sendo inteiramente incurável, oferece-nos um quadro vivo e aterrador do pecado — o pecado na natureza humana —, o pecado nas nossas circunstâncias, o pecado na assembleia. Que lição para a alma no fato que uma enfermidade tão horrorosa e humilhante seja empregada como figura do mal moral, quer seja num membro da assembleia de Deus, quer nas circunstâncias de qualquer membro ou na própria assembleia.

A Lepra num Homem 


Primeiramente, quanto à Lepra num indivíduo; ou, por outras palavras, quanto à ação do mal moral ou do que poderia parecer mal em qualquer membro da assembleia. Isto é um assunto grave e de séria importância — um assunto que requer a máxima vigilância e solicitude por parte dos que desejam o bem das almas e a glória de Deus, relacionada com o bem-estar e a pureza da Assembleia como corpo e de cada membro em particular.

Convém observar que, embora os princípios gerais da Lepra e a sua purificação se apliquem, em sentido secundário, a todo o pecador; todavia, nas passagens da Escritura, que estamos analisando, o assunto é apresentado em relação com aqueles que eram reconhecidos como povo de Deus. A pessoa que aqui vemos sujeitar-se ao exame do sacerdote é um membro da assembleia de Deus. É conveniente compreender isto. A assembleia de Deus deve manter-se pura porque é Sua habitação. Nenhum leproso podia ser autorizado a permanecer no recinto sagrado de habitação do Senhor.

A Responsabilidade do Sacerdote

Mas observe-se o cuidado, a vigilância, a perfeita paciência recomendada ao sacerdote para evitar que se considerasse como Lepra o que não o era ou que aquilo que na realidade era Lepra pudesse escapar à sua atenção. Muitas afecções podiam aparecer "na pele" — o lugar para manifestações da Lepra — "semelhantes à praga da Lepra", as quais, depois de uma paciente investigação do sacerdote, se verificava serem apenas superficiais. Isto requeria muita atenção. Qualquer mancha podia aparecer na superfície da pele, a qual, ainda que requeresse ser examinada por aquele que atuava por Deus, não era, na realidade, mancha. E, contudo, o que parecia ser apenas uma mancha superficial podia ser alguma coisa mais profunda do que a pele, alguma coisa interna, que afetasse os elementos ocultos do organismo. Tudo isto requeria a maior atenção por parte do sacerdote (veja-se os versículos 2-11). Uma simples negligência, um ligeiro descuido, podiam ter graves consequências. Podiam ocasionar a contaminação da assembleia devido à presença da pessoa declarada leprosa ou a expulsão, por qualquer mancha apenas superficial, de um verdadeiro membro do Israel de Deus.

Ora, em tudo isto há um fundamento precioso de instrução para o povo de Deus. Existe uma diferença entre a enfermidade pessoal e a energia positiva do mal — entre meros defeitos e imperfeições da consulta e a atividade do pecado nos membros. Sem dúvida, importa velar sobre as nossas fraquezas; pois se não vigiarmos, se não as julgarmos e não nos guardarmos delas podem tornar-se na fonte de um mal positivo (veja-se versículos 14 a 28). Tudo que procede da nossa natureza deve ser julgado e mortificado. Não devemos ser indulgentes para com as fraquezas pessoais em nós próprios, ainda que devamos ser indulgentes para com as dos nossos semelhantes. Tomemos por exemplo o caso de um temperamento irascível. É um caso que devemos condenar em nós próprios, embora devamos tolerá-lo nos nossos semelhantes. A semelhança da "inchação do apostema", no caso de um israelita (versículos 19-20), pode chegar a ser causa de verdadeiro contágio — motivo para exclusão da assembleia. Toda a forma de fraqueza deve ser vigiada, não seja o caso de se tornar ocasião de pecado.

Uma "cabeça calva" não era Lepra, mas era onde a Lepra podia declarar-se, e, por isso, tinha de ser vigiada. Há mil e uma coisas que, em si mesmas, não são pecaminosas, mas que podem chegar a ser ocasião de pecado se não se exercer sobre elas vigilância. E não se trata somente do que, no nosso parecer, pode ser designado por defeitos ou fraquezas pessoais, mas até de coisas em que os nossos corações estão dispostos a gloriar-se. A agudez do gênio, o bom humor e a vivacidade de espírito, podem chegar a ser fonte e centro de contaminação. Cada pessoa tem uma ou outra tendência de que deve guardar-se — alguma coisa que o obriga a estar sempre em guarda. Quão ditosos somos nós, pois temos um Pai carinhoso a quem podemos expor todas estas coisas! Confiados no amor indulgente e infatigável, temos o precioso privilégio de poder entrar sempre na Sua presença para Lhe contar tudo que pesa sobre o coração e obter graça para sermos ajudados em todas as nossas necessidades e obter vitória sobre todo o mal. Não há motivos para desanimar enquanto vemos sobre a porta da tesouraria de nosso Pai esta inscrição: "Ele dá maior graça". Preciosa inscrição! O seu valor não tem limites: é incalculável, é infinito

A Praga da Lepra 


Vejamos agora como se procedia em cada caso em que a praga da Lepra era indiscutível e claramente determinada. O Deus de Israel podia tolerar as enfermidades e os defeitos, mas a partir do momento em que a enfermidade se tornava um caso de corrupção, ou fosse na cabeça, na barba, na testa ou em qualquer outra parte do corpo, não podia ser tolerada na santa congregação. "Também as vestes do leproso, em quem está a praga, serão rasgados, e a sua cabeça será descoberta, e cobrirá o beiço superior e clamará: Imundo, imundo! Todos os dias em que a praga estiver nele, será imundo; imundo está, habitará só; a sua habitação será fora do arraial" (versículos 45 - 46). Descreve-se aqui a condição, ocupação e o lugar do leproso. Os vestidos rasgados, a cabeça descoberta, o lábio superior coberto e gritando: Imundo, imundo! E tendo de morar fora do arraial na solidão do deserto vasto e terrível! Que podia haver de mais humilhante e deprimente do que isto? "Habitará só" Era impróprio estar em comunhão ou ter a companhia do seu povo. Era excluído do único lugar, em todo o mundo, onde se conhecia e gozava a presença do Senhor.

Prezado leitor, contemple neste pobre e solitário leproso o tipo expressivo da pessoa em quem o pecado opera. É este realmente o seu significado. Não é, como veremos imediatamente, um pecador perdido, arruinado, culpado e convicto, cuja culpa e miséria são manifestos, e, portanto, objetivo próprio para o amor de Deus e o sangue de Cristo. Não; no leproso excluído vemos uma pessoa em que o pecado está atuando — uma pessoa em quem está a energia do mal. É isto que mancha, exclui e priva do gozo da presença divina e da comunhão dos santos. Enquanto o pecado operar não pode haver comunhão com Deus ou com o Seu povo. "Habitará só; a sua habitação será fora do arraial". Até quando? "Todos os dias em que a praga estiver nele". Há aqui uma grande verdade prática. A atividade do mal é o golpe de morte da comunhão. Pode haver aparências exteriores, puro formalismo, fria profissão, mas não pode haver nenhuma comunhão enquanto o mal continuar a atuar. Não importa qual seja o caráter do mal ou a sua importância, ainda que seja insignificante ou apenas um mau pensamento, enquanto continuar a atuar impedirá ou causará a suspensão da comunhão. E quando se forma a empola, quando surge à superfície, quando se descobre inteiramente, que pode combater-se e tirá-lo pela graça de Deus e pelo sangue do Cordeiro.

Completamente Coberto de Lepra

Isto leva-nos a um ponto muito interessante em relação com o leproso — um ponto que parecerá um paradoxo para todos os que não compreendem a maneira como Deus opera para com os pecadores. "E, se a Lepra florescer de todo na pele e a Lepra cobrir toda a pele do que tem a praga, desde a sua cabeça até aos seus pés, quanto podem ver os olhos do sacerdote, então, o sacerdote examinará, e eis que, se a Lepra tem coberto toda a sua carne, então, declarará limpo o que tem a mancha: todo se tornou branco; limpo está" (capítulo 13:12 - 13). Desde o momento em que o pecador ocupa o seu verdadeiro lugar perante Deus, todo o problema do seu pecado é resolvido. Desde que manifeste o seu verdadeiro caráter, desaparecem todas as dificuldades.

Talvez tenha de passar por experiências difíceis antes de chegar a este ponto — experiências resultantes de se recusar a ocupar o seu verdadeiro lugar, ou seja, confessar "toda a verdade" sobre a sua pessoa. Porém desde o momento em que ele se decide a dizer, de todo o seu coração, "tal como sou" a graça de Deus se derrama sobre ele. "Enquanto eu me calei, envelheceram os meus ossos pelo meu bramido em todo o dia. Porque de dia e de noite a tua mão pesava sobre mim; o meu humor se tornou em sequidão de estio"(Sl 32:3-4). Quanto tempo durou esta penosa experiência? Até que toda a verdade se descobriu. "Confessei-te o meu pecado e a minha maldade não encobri; dizia eu: Confessarei ao SENHOR as minhas transgressões; e tu perdoaste a maldade do meu pecado" (versículo 5).

É interessantíssimo reparar na maneira como Deus trata progressivamente com o leproso, desde o momento em que os primeiros sintomas fazem surgir a suspeita de enfermidade até que esta se estende a todo o corpo, "desde o alto da cabeça à planta do pé". Não havia pressa nem indiferença. Deus entra sempre no lugar do julgamento com passo lento e bem calculado; mas depois de haver entrado tem de agir segundo os direitos da Sua natureza. Pode examinar com paciência; pode esperar "sete dias"; e se há a mínima mudança nos sintomas pode esperar outros "sete dias"; mas desde o momento em que se verifica positivamente a ação da Lepra, não pode haver mais tolerância. "Fora do arraial será a sua habitação". Até quando? Até que a enfermidade se haja manifestado inteiramente à superfície. "Se a Lepra tem coberto toda a sua carne, então será declarado limpo". É um ponto precioso e muito interessante. A menor mancha de Lepra era intolerável aos olhos de Deus; e, contudo, quando o homem estava completamente atacado por ela, desde a cabeça aos pés, então, era declarado limpo — quer dizer, era assunto apropriado para a graça de Deus e o sangue da expiação.

Da Perdição à Glória

Aqui termina o relato das disposições do Senhor sobre o leproso; e oh, que maravilhoso relato! Que exposição da hediondez do pecado, da graça e santidade de Deus, da preciosidade da Pessoa de Cristo e a eficácia da Sua obra! Nada pode ser mais interessante do que observar os rasgos da graça divina saindo do recinto sagrado do santuário para ir ao lugar imundo, onde, de cabeça descoberta, embuçado e com as vestes rasgadas, se encontrava o leproso. Deus procurava o leproso onde ele estava; mas não o deixava ali.

Manifestava-se pronto a cumprir uma obra em virtude da qual podia conduzir o leproso a um lugar mais elevado e a uma comunhão mais íntima do que ele jamais havia conhecido. Em virtude desta obra, o leproso era conduzido do seu lugar de imundície e solidão para a própria porta do tabernáculo da congregação, o lugar dos sacerdotes, para ali gozar dos privilégios sacerdotais (compare-se Êxodo 29:20, 21, 32). Como poderia elevar-se a tal posição? Por si mesmo era impossível. Por muito que pudesse fazer, teria definhado e morrido na sua Lepra, se a graça soberana do Deus de Israel não tivesse descido sobre ele para o elevar do lugar imundo até o colocar entre os príncipes do Seu povo.

Se alguma vez existiu um caso em que a questão dos esforços humanos, dos méritos humanos e da justiça humana, pôde ser plenamente provada e arrumada para sempre, é incontestavelmente o caso do leproso. Seria uma lamentável perda de tempo discutir tal questão em presença de um caso semelhante. Deve ser evidente, até mesmo para o leitor mais superficial, que nada senão a graça divina, reinando pela justiça, podia ir ao encontro das condições e necessidades do leproso. E de que maneira gloriosa e triunfante opera a graça de Deus! Desce às maiores profundidades a fim de elevar o leproso às maiores alturas. Vede o que o leproso perdeu e o que ganhou! Perdeu tudo o que pertencia à natureza e ganhou o sangue da expiação e a graça do Espírito — simbolicamente falando. Em boa verdade, os seus ganhos eram incalculáveis. Se nunca tivesse sido posto fora do arraial, nunca teria alcançado tão infinita riqueza. Tal é a graça de Deus! Tal é o poder e o valor, a virtude e a eficácia do sangue do Senhor Jesus!

Como tudo isto nos recorda forçosamente o filho pródigo, em Lucas 15! Nele a Lepra havia também alastrado e surgido à superfície. Havia estado longe num lugar imundo, onde os seus próprios pecados e o intenso egoísmo dos habitantes da terra longínqua tinham criado uma situação de solidão em redor de si. Mas, bendito seja para sempre o profundo e terno amor do Pai, sabemos como tudo acabou: o pródigo encontrou uma nova posição mais elevada e entrou numa comunhão mais íntima do que antes conhecera. Nunca antes se tinha morto um "bezerro cevado" para ele. Nunca se lhe havia vestido "o melhor vestido". E a que devia tal distinção? Seria devido aos méritos do pródigo? Oh, não; era simplesmente devido ao amor do Pai.

Prezado leitor, permita que lhe faça esta pergunta: pode debruçar-se sobre o relato do procedimento de Deus para com o leproso, em Levítico 14, ou da conduta do Pai para com o pródigo, em Lucas 15, sem sentir intensamente o amor que existe em Deus? Esse amor que se manifesta na Pessoa e obra de Cristo, que é relatado nas Escrituras Sagradas e derramado sobre o coração do crente pelo Espírito Santo? Que o Senhor nos dê uma comunhão mais íntima e constante consigo mesmo! 


Autor: C. H. Mackintosh, extraído dos estudos sobre o livro de Levítico, 1978, 2ª edição.