sábado, 11 de janeiro de 2020

Porta dos Fundos

Imagem cedida por Maurício Alcebíades
Eu sou a porta; se alguém entrar por mim, salvar-se-á, e entrará, e sairá, e achará pastagens. João 10:9

Eu sempre soube que assumir minha conversão seria um caminho sem volta, e uma decisão difícil. Nada me incomodava mais que “crentes”, e todas aquelas pessoas que pareciam ter um contato direto com os céus a qualquer momento e hora.

A bem da verdade, ainda não gosto de lidar com esse tipo de pessoa, porque entendo que isso na maioria das vezes nada tem a ver com o cristianismo, nada a ver com o que encontro na Bíblia. Mas, no início, quando eu ainda não conhecia a fé que começava a me consumir, era isso que eu pensava que aconteceria dali para frente. E o julgamento daqueles ao meu redor seria inevitável.

Foi então que tomei a decisão de guardar para mim a minha fé. Já escrevi várias vezes aqui que lia a Bíblia escondido em casa, e continuo sempre que posso mantendo discrição da vida cristã, porque me parece ofensivo aos que não creem ostentar o que quer que seja relacionado à minha fé. Soa hipocrisia, e sinceramente, querer mostrar a fé beira o farisaísmo mesmo.

Por outro lado, a boca fala do que o coração está cheio, então, fiz este blog, e nas minhas redes sociais não me furto de compartilhar a Palavra do Senhor, ou textos relacionados. E foi exatamente aí, na internet, que o inimigo me pegou no pulo...

Nas últimas semanas a internet e a mídia em geral estava eufórica por conta de um grupo de humoristas que fizeram um especial fazendo chacota do nome do Senhor Jesus. Minha opinião era que eles deveriam ser ignorados, para mim eles estavam zombando de algo que não conheciam, e o mundo jaz no maligno. O Senhor lidaria com eles na hora certa.

Mas não foram ignorados. O assunto ficou pesando no ambiente, indo e voltando, diversas pessoas incomodadas, cristãos católicos, protestantes, e vários outros aleatórios na onda defendendo ou atacando. Até que alguém usou o dispositivo da lei sobre vilipêndio da fé e a empresa de streaming foi obrigada a remover o especial do ar (depois o STF revogou a decisão, claro!).

Aí misturaram religião com política, falaram de censura, histeria coletiva. Rede social fervendo. E o que eu poderia fazer? Se exercesse o meu bom senso, nada. Deveria ficar na minha, pois este assunto é coisa do mundo, por mais que esteja levando o nome do Senhor em vão, não é um assunto do céu para eu me preocupar. Mas fui lá e opinei meia dúzia de twittes, explicando a diferença de censura e a lei, que foi a mesma aplicada a
o episódio do bispo evangélico que chutou uma imagem da tradição católica em 1995, e que por mim os humoristas mereciam amargar a falta de audiência (não com estas palavras). Havia pessoas argumentando que existiam personagens de pai de santo gay, e então expliquei que o problema que causou a comoção de cristãos não era o personagem gay, era o personagem ser o Senhor Jesus Cristo, e pai de santo é um adepto de uma religião e não o objeto de culto dela. Parece óbvio, não? 

Pois é. Lá estava eu me enfiando em assuntos do mundo contrários à minha nova natureza em Cristo! E pior, caí no bait mais furado de toda a celeuma que foi incluir o cristianismo do hall de “religião” junto com qualquer outra coisa que se cultue. E sinceramente, eu não sou religiosa. Eu sou cristã! Não tenho uma lista de dogmas para seguir para conseguir algo em troca, ao contrário, os valores e princípios cristãos são seguidos porque Cristo já me deu tudo, já me salvou!

Por que eu li e ouvi toda sorte de baboseiras sobre o assunto e fiquei quieta, e quando o tema foi “pai de santo gay ou chute na santa” eu resolvi me posicionar? Porque escondido no meu coração estavam, mais do que uma hipócrita religiosa, a pretensiosa que achava que deveria ser clara a distinção da pessoa do Senhor Jesus Cristo de qualquer outra que alguém valorize ou preste culto, a sabichona que acha que tem a resposta certa para tudo que diz respeito a Cristo entre os que não creem, sendo que nem parei para questionar as consequências da minha opinião publicada.

Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho, e então cuidarás em tirar o argueiro do olho do teu irmão. Mateus 7:5

Em resposta, tomei uma indireta citando a hipocrisia de quem cita a Bíblia de cor e dá piti com os membros da família e prefere a família crente dos outros. Não que eu concorde com estas palavras, elas não são verdadeiras, são o ponto de vista de quem disse. Dar piti equivale a se irritar. Normal. E não existe nenhuma outra família “crente” a quem eu prefira à minha. Mas isso remete ao início do texto quando optei por manter discrição da minha fé. Foi para evitar exatamente esse tipo de situação.

É melhor não jogar holofotes sobre a própria fé para que quando um incrédulo te pegue numa falha, o nome de Cristo a quem eu deveria estar representando não seja menosprezado. Claro que sempre falharemos, não seremos perfeitos até que o Senhor nos arrebate aos céus, e talvez esta perspectiva de que os cristãos são normais (sentem raiva, tristeza, choram, se irritam, erram!) que os incrédulos não têm, pois estão acostumados a ver pessoas pagando de profetas e falando coisas que ninguém entende, tendo visões, curas, e uma séria de coisas que não refletem o cristianismo bíblico relatado nas epistolas dos apóstolos. Eles acham que o cristão nunca pode falhar, se falhar é porque é falso.

Eu errei em opinar! E não só porque resultou em ofensa a quem não tem a mesma fé. A ofensa foi o gatilho que me fez tomar consciência do meu erro. Este assunto não é do interesse de Cristo, salvar os pecadores é o objeto da Tua graça, um dia talvez, os autores deste episódio lamentável e todos que o defendem, podem se converter e então eles serão desprezados pela mesma mídia que hoje é seu palco. Quem sabe?

"Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna". Jo 3:16


Eis que estou à porta, e bato; se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e com ele cearei, e ele comigo. Apocalipse 3:20