terça-feira, 6 de junho de 2017

Palavra de Deus - Parte 2



O Homem Natural é Inimigo de Cristo e da Palavra de Deus, este Livro julga o homem — julga os seus caminhos - julga o seu coração. Conta-lhe a verdade a seu próprio respeito. Por isso o homem não gosta do Livro de Deus. Um homem inconvertido prefere antes um periódico ou uma novela sensacional em vez da Bíblia. Lerá antes o relato de um julgamento num dos nossos tribunais em vez de um capítulo do Novo Testamento. Daí o esforço constante para encontrar defeitos no bendito Livro de Deus.

Os infiéis, em todos os tempos e de todas as classes, têm laborado com afinco para descobrir falhas e contradições na Sagrada Escritura. Os denotados inimigos da Palavra de Deus não se encontram somente nas fileiras dos vulgares, dos rudes e pervertidos, mas entre os educados, os polidos e civilizados. Assim como era nos dias dos apóstolos, em que "alguns homens perversos dentre os vadios" e "algumas mulheres religiosas e honestas" — duas classes tão afastadas uma da outra social e moralmente — encontraram um ponto em que podiam cordialmente concordar, isto é, a inteira rejeição da Palavra de Deus e daqueles que a pregavam (compare-se Atos 13:50 com 17:5), assim nós encontramos sempre homens que, discordando quase em tudo, concordam na sua decidida oposição à Bíblia.

Outros livros são deixados em paz. Os homens não se preocupam em achar defeitos em Virgílio, Horácio, em Homero ou Herodoto; mas não podem suportar a Bíblia porque ela lhes expõe e diz a verdade a respeito deles e do mundo a que pertencem. E não sucedeu exatamente o mesmo com a Palavra vivente — o Filho de Deus, o Senhor Jesus Cristo, quando aqui andou entre os homens? Os homens aborreceram-No, porque Ele lhes disse a verdade, o Seu ministério, as Suas palavras, a Sua conduta, toda a Sua vida era um perene testemunho contra o mundo; daí a amarga e persistente oposição que Lhe moveram; outros homens foram tolerados; mas Ele era vigiado e espiado em todos os Seus passos. Os grandes chefes e guias do povo consultavam entre si como "o surpreenderiam nalguma palavra"; buscando ocasião contra Ele a fim de que pudessem entregá-Lo à autoridade e poder do governador.

Assim foi durante a Sua maravilhosa vida; e, no final, quando o bendito Senhor foi cravado na cruz entre dois malfeitores, estes foram deixados em paz; não choveram insultos sobre eles, os principais dos sacerdotes e os anciãos não meneavam as suas cabeças ante eles. Não; todos os insultos, todo o escárnio, toda a grassaria* e cruel vulgaridade — tudo foi lançado sobre o divino Ocupante da cruz do centro. Ora, é conveniente compreendermos a fundo a verdadeira origem de toda a oposição à Palavra de Deus — quer seja à Palavra viva ou à Palavra escrita. Isto habilitar-nos-á a apreciá-la no seu verdadeiro valor.

O diabo aborrece a Palavra de Deus — aborrece-a com verdadeiro ódio; e por isso serve-se de descrentes instruídos para escreverem livros para provar que a Bíblia não é a Palavra de Deus, que não pode ser a Palavra de Deus, visto que há nela erros e contradições; e não apenas isto, mas que, no Velho Testamento, encontramos leis e instituições, hábitos e práticas indignos de um Ser misericordioso e benévolo! A todo este gênero de argumentos temos uma réplica breve e precisa; a respeito de todos estes incrédulos eruditos dizemos simplesmente que eles não conhecem absolutamente nada sobre a questão.

Podem ser instruídos, hábeis, pensadores originais e profundos, ilustres em literatura geral, muito competentes para darem uma opinião sobre qualquer assunto nos domínios da filosofia natural e moral, e muito capazes de discutir qualquer assunto científico. Além disso, podem ser muito amáveis na vida privada, caráteres verdadeiramente estimáveis, amáveis, bondosos, altruístas amados na sua vida privada e respeitáveis em público. Podem ser tudo isso, mas, sendo inconvertidos, e não tendo o Espírito de Deus, são completamente incapazes de fazer, muito menos de dar, um juízo sobre o assunto da Sagrada Escritura.

Se alguém totalmente ignorante em astronomia presumisse entrar em discussão sobre os princípios do sistema de Copérnico, estes mesmos homens de quem falamos o declarariam imediatamente incompetente para falar e indigno de ser escutado sobre tal assunto. Em resumo, ninguém tem o direito de dar uma opinião sobre um assunto que não conhece. Isto é um principio admitido por todos; e, portanto a sua aplicação ao caso presente não pode ser posta em questão. Ora, o apóstolo inspirado diz-nos, na sua primeira epístola aos Coríntios, que "o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente." Isto é concludente. Fala do homem no seu estado natural, seja qual for a sua instrução ou a sua cultura. Não fala de qualquer classe especial de homens; mas simplesmente do homem no seu estado inconvertido, o homem destituído do Espírito de Deus. Alguém pode imaginar que o apóstolo se refere ao homem num estado de barbárie ou de selvagem ignorância? De modo nenhum; refere- se simplesmente ao homem natural, seja um ilustrado filósofo ou um ignorante palhaço.

"Não pode compreender as coisas do Espírito de Deus." Como pode então ele formar um juízo ou emitir um parecer quanto à Palavra de Deus? Como pode tomar sobre si a responsabilidade de dizer o que é ou que não digno de Deus escrever e se for bastante audacioso para o fazer — e infelizmente é! — quem será tão néscio que queira escutá-lo?- Os seus argumentos são infundados; as suas teorias desprezíveis; os seus livros são apenas próprios para o cesto dos papéis. Tudo isto, note-se, baseado no princípio universalmente admitido e acima acentuado de que ninguém tem qualquer direito a ser ouvido sobre um assunto do qual é totalmente ignorante.
  


* Nota pessoal: A transcrição do texto utiliza o termo "grassaria". Entendo que o mais adequado talvez fosse "grosseria" pelo contexto, mas não tive acesso ao original para saber qual a expressão correta. 

Autor: C. H. Mackintosh, extraído dos estudos sobre o livro de Deuteronômio.

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