sábado, 12 de março de 2016

Nascer de Novo




Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três, mas o maior destes é o amor. 1 Coríntios 13:13

Em outra oportunidade já contei uma parte de minha história e meus problemas de saúde do passado. De certa forma gosto de falar sobre minha trajetória, pois hoje me sinto muito bem e feliz, e parte deste sentimento não existiria se o percurso pelo qual passei tivesse sido diferente.

Mas, me recordo que por um período da juventude, eu me sentia muito desconfortável em falar sobre o meu problema, o rótulo de “menina doente” não me cabia, eu não gostava que me vissem assim, ao mesmo tempo eu abusava da situação para tentar conquistar simpatia. É um grande paradoxo. Eu simplesmente não acreditava que pudessem gostar de mim sem antes sentir um pouquinho de compaixão, ou pior, pena.

Anos depois, vivi uma situação quase que inversa. Quase. Eu, hoje uma pessoa saudável conheci um rapaz enfermo. Ele tinha um câncer linfático, fazia quimioterapia, e com frequência estava internado. Trabalhava em casa, a empresa prestava toda assistência. Mas por incrível que pareça, embora esse relato seja um caso lamentável, encontrei nesse rapaz uma positividade e otimismo que eu, mesmo depois da cura, jamais tive.

Ele, ao contrário de mim na época, não tinha o menor pudor para falar sobre sua enfermidade, relatava suas crises de enjoo, a baixa imunidade, todo o sofrimento da quimioterapia. Nada disso me causava a menor pena, mas sim um pouco de vergonha, por ainda reclamar da vida em algumas situações. E
le não falava apenas sobre isso, impus pouquíssimos limites para nossos assuntos. Criei uma afinidade profunda, um amor sem explicação. O via como o modelo ideal que eu gostaria de ter sido, a forma como eu gostaria de ter reagido ao sofrimento. Era o que eu pensava.

Numa de nossas conversas, entrei no assunto fé, e foi o único assunto difícil entre nós. Na verdade, tudo começou com o assunto religião, devido algumas escolhas e opiniões minhas sobre determinados assuntos, que ele achou que fosse devido a isso. Não defendi religião nenhuma, pois não sou adepta de nenhuma e nunca fui. Creio em Deus, em sua Palavra e no testemunho que ela dá sobre o Senhor Jesus Cristo, Salvador. Ele me contou que já frequentou igrejas, não me recordo de ter questionado qual, mas pouco importa.

O maior sofrimento humano não são as doenças do corpo, mas da alma. O desânimo do espírito. Durante anos fiquei angustiada, tentando entender Deus, e ouvindo diversos achismos sobre a Bíblia. Muitas dúvidas desse meu amigo foram minhas: “quem traduziu e descreveu a Bíblia?”, “por que os cristãos estão certos e judeus não?”, “por que o Deus do antigo testamento castigava e no novo testamento perdoa?”. Como ele mesmo disse, fé não tem lógica. Ou como diz num versículo belo da Carta aos Hebreus: “Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não veem” (Hebreus 11:1).

É natural e até bom ter dúvidas, melhor ainda é quando nos libertamos da necessidade das respostas. Não que isto signifique uma ignorância passiva, mas existem coisas que fogem do domínio de nosso intelecto, e não adianta tentar racionalizar. Existem verdades no relato de Deus, a Bíblia, que só pelo Seu próprio poder conseguimos acreditar, mesmo sem entender às vezes. Não à toa Deus se colocou no posto de Pai daqueles que creem no seu Primogênito, Jesus Cristo. Quando criança ao recebermos uma ordem ou conselho de nosso pai, obedecemos, mesmo por vezes discordando, por não compreender suas razões. De certa forma fica uma confiança que se não ocorrer o bem que queríamos, também mal não vai fazer. Quanto mais digno de confiança é nosso Pai do céu!

É curioso, pois esse meu amigo demonstrou muita fé, desde a primeira conversa. Mesmo quando ele estava internado e eu no conforto da minha casa, ou ele confinado em sua própria casa e eu no trabalho. Nossa conversa “difícil” tinha me preocupado, por um momento achei que não compartilhávamos a mesma fé. Só Deus conhece os corações, mas me sinto mais tranquila quanto a isso. Apesar das dúvidas, percebi que não eram tanto sobre Deus, mas sobre a bagunça que os homens fizeram a respeito das obras de Deus. Com o tempo se esclarecerão.

Uma vez ele brincou comigo dizendo que o mundo não é o que eu vejo na igreja. Engraçado. Ele sabia que eu não via nada na igreja, mas não entendia, como muitos, o que é ter fé sem ter religião. Não tenho a menor ilusão de que o mundo e as pessoas em seu estado natural (mesmo muitas dentro das “igrejas”) tenham algo de bom. Tenho plena convicção de que este mundo está condenado por completo, e que o único caminho é Cristo, e devemos exatamente nos desapegar desse mundo, como disse o Senhor:

Porque tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não é do Pai, mas do mundo.
E o mundo passa, e a sua concupiscência; mas aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre. 1 João 2:16,17


Há pouco tempo esse meu amigo fez um tratamento que esperamos ser definitivo. Segundo ele zerou a memória das células sanguíneas, voltou a ter sangue de criança, sem as defesas imunológicas adquiras ao longo da vida. O tumor também foi eliminado. Fiquei muito feliz, transbordante de alegria. A vida lhe deu a oportunidade de um novo começo, literalmente. Nasceu de novo. 

A palavra Linfoma vem do grego Lympha que significa Água. Isso me lembra dum versículo que fala sobre nascer de novo, da água e do Espírito:

Jesus respondeu: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus. João 3:5
E no mesmo capítulo:

Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. João 3:16


Quem crê em Cristo não perece, ainda que sofra um pouco. Ele conhece bem a hostilidade desse mundo, foi açoitado e crucificado, mas venceu o mundo. Já somos mais que vencedores!




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