terça-feira, 8 de julho de 2014

Cegueira






Tenho um gato cego chamado Pirulito. Ele nasceu enxergando, mas aos poucos foi perdendo a visão. Certo dia estava em meu quintal, sentada, meditando nas coisas da vida, e comecei a observá-lo.

Pirulito caminhava para lá e para cá, subia muro, descia muro... Certo momento ele parou para tomar um banho de sol, foi quando me deu vontade de fotografá-lo. Achei engraçado como um animal cego é muito mais autossufiente que os humanos.

Os homens cegos dependem de bengalas, um cão-guia, de outros homens para conseguir caminhar, quiçá subir escadas ou muros. Os mecanismos de sobrevivência dos animais são mais fortes, e eles sequer têm consciência disto! Os homens por sua vez possuem consciência da complexidade de seu intelecto, e muitas vezes se deixam privar por questões da carne.

Nós homens nascemos cegos, incrédulos, alguns viram religiosos, outros ateus, outros não consideram nem uma hipótese nem outra, seu ídolo é o mundo; aí vive feito o Pirulito, que dentro de casa esbarra na minha perna, no pé da mesa... demora a achar a porta, mas quando acha e sai, no quintal ele se liberta, fora existem menos empecilhos artificiais que os homens colocaram em seu caminho.

Os homens são campeões em lançar pedras de tropeços diante dos outros. Nós na incredulidade somos condutores cegos tentando guiar outro, só que o fim é o abismo (Mateus 15:14). Mas aprendi, bem como o Pirulito, que fora do arraial está algo precioso: Jesus “para santificar o povo pelo seu próprio sangue, padeceu fora da porta”. “Saiamos, pois, a ele fora do arraial, levando o seu vitupério”.



Dentro de casa (arraial) Pirulito é efetivamente um cego, deslocado, humilhado por outros gatos ditos saudáveis, tadinho ele apanha até da gatinha mais nova (neófita)! Fora ele se renova, tem pleno controle de suas habilidades motoras, e anda calma e silenciosamente como tendo controle de si. Não mia por comida, sabe que sempre a recebe, não fica curioso para saber o que tem de bom na casa (arraial) do vizinho, o máximo que faz é subir no muro alto e sentir o movimento, a brisa!

Pirulito não espera nada deste mundo, e tudo que ele precisa ele recebe, tem um cesto para dormir, comida na hora certa, e a hostilidade dos demais faz parte. Não é uma perfeita figura de um cristão? Incrédulos somos cegos, sem esperança. Crentes possuímos vida do alto, e vemos em parte. Dentro do arraial, na confusão atual, no entanto, acabamos por agir como se ainda fossemos cegos, esbarramos em redor em todo vento de doutrina estranha. Mas nada como sair disso tudo e sentir a paz que o mundo não dá, a paz deixada por Cristo Jesus, prometida antes de seu sacrifício quando anunciou que iria voltar vitorioso.

Porque não temos aqui cidade permanente, mas buscamos a futura. Pirulito é o mais desprezado dos gatos, não chega nem na sala de estar, não sobe no sofá, mas isso não importa para ele. Para nós Cristãos, que valorizamos sobremaneira o nome do Senhor Jesus Cristo as vantagens do mundo, ainda aquelas que possuem rótulos cristãos, se não estão de acordo com a Palavra de Deus, a Bíblia, não possui valor nenhum.

To fora!


Não vos deixeis levar em redor por doutrinas várias e estranhas, porque bom é que o coração se fortifique com graça, e não com alimentos que de nada aproveitaram aos que a eles se entregaram.
Temos um altar, de que não têm direito de comer os que servem ao tabernáculo.
Porque os corpos dos animais, cujo sangue é, pelo pecado, trazido pelo sumo sacerdote para o santuário, são queimados fora do arraial.
E por isso também Jesus, para santificar o povo pelo seu próprio sangue, padeceu fora da porta.
Saiamos, pois, a ele fora do arraial, levando o seu vitupério.
Porque não temos aqui cidade permanente, mas buscamos a futura.
Portanto, ofereçamos sempre por ele a Deus sacrifício de louvor, isto é, o fruto dos lábios que confessam o seu nome.
E não vos esqueçais da beneficência e comunicação, porque com tais sacrifícios Deus se agrada.


Hebreus 13:9-16

quarta-feira, 14 de maio de 2014

Obediência




Ao visitar uma casa de amigos, presenciei uma discussão entre duas crianças que tentavam convencer a mãe da sua inocência da seguinte forma:

– Mãe foi ele!
– Foi ela!
– Ele disse que eu podia pegar o copo, aí eu peguei. Aí o copo caiu e quebrou!
– Ela pegou por que quis!
Então a mãe interviu: – Parem de brigar se não...

O se não é o x da questão. Estamos educando nossas crianças a base de subornos, não faça isso se não não ganha doce, faça aquilo se não não vai passear, não faça isso se não não pode ter isso ou aquilo. A consequência de obedecer é sempre positiva para a criança, ao menos naquele momento. Isso desvirtua o processo de educação, pois eles crescem querendo levar vantagem em tudo.

Desde o princípio fomos desobedientes. O primeiro homem Adão, ouviu o primeiro se não da história, mas foi uma justificativa negativa:

Mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dessa não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás.” (Gênesis 2:17)

Antes de Eva ser criada, Adão já tinha ouvido a Palavra de Ordem dada por Deus para não comer daquela árvore, senão morreria. Quando Eva foi criada, a versão que ela conhecia da ordem de Deus era: “do fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: Não comereis dele, nem nele tocareis, para que não morrais”. Eva acrescentou um ponto ao conto. Deus não disse que não podiam tocar no fruto. Essa foi a deixa dada a serpente.

“Sabe de nada inocente”. Foi o que a serpente pode ter pensado quando aproveitou para inserir diante dos olhos humanos a vantagem do erro. Disse que certamente não morreria, e seriam como deuses.

Então, vendo a mulher que aquela árvore era boa para se comer, e agradável aos olhos, e árvore desejável para dar entendimento, tomou do seu fruto, comeu, e deu a seu marido, e ele também comeu” Gênesis 3:6.

Querer levar vantagem levou as primeiras criaturas a desobedecer, assim como a vantagem leva as últimas a obedecer, o que não chega a ser obediência, pois não estão respeitando a autoridade de quem ordena, mas agem por interesse na recompensa, na impossibilidade de poder pagar a promessa, serão as crianças que vão manipular os pais com a pressão emocional. Aprendem pelo exemplo.  

Ao contrário de Adão e Eva, todos nós nascemos com esse impulso ao erro, em consequência daquele evento no Éden. Então somos muito mais responsáveis por expor nossas crianças a esse tipo de educação, pois se já somos maus por natureza, eles serão piores pela criação que recebem.

A Bíblia diz que Adão não foi enganado (1 Timóteo 2:14), ele não acreditou no conto da serpente, apenas foi no embalo da mulher, depois não teve coragem de assumir seu ato, pois o germe do pecado havia sido inserido após a desobediência, tomou consciência do mal que fizera.

A mulher disse: – Foi culpa da serpente!

Adão, por sua vez: – Foi culpa da Eva!

Muito familiar esse diálogo. Creio que todos quando crianças já tiveram a sensação de ser pego num ato ilícito. Nós nos sentimos nus, sem ter para onde fugir ou como esconder a vergonha. Aquela vantagem inicial é a que nos traz morte hoje, o salário justo do pecado. E para que não comessem da árvore da vida, Deus os tirou do jardim. Deus para disciplinar os tirou todas as vantagens que possuíam inclusive o Éden.

Por que achamos que fazendo diferente vai dar certo? Graças a Deus não tenho do que reclamar neste aspecto, pois minha mãe nunca cedeu aos apelos de nenhum dos filhos, com ela era “Não pode”. Isso era suficiente, funciona até agora... Marmanja com quase 30 anos nas costas. Eu poderia até questionar por que não? Ou pensar, será que se eu fizer isso vai acontecer aquilo mesmo? Ela não me condenaria por duvidar, duvido até hoje, mas por desobedecer. Os pecados são sempre a prática de algo que não deveria ter sido feito.     

Depois do erro não teve nenhum senão da parte de Deus. Sofreríamos as consequências de nosso ato, geração após geração. Mas esse não era o plano original de Deus, embora previsto. Pelo determinado conselho e presciência de Deus, Jesus, o Filho Unigênito do Pai, o Segundo Adão, primícias de uma nova criação, veio ao mundo para ser entregue por nossos pecados (Atos 2:23). O homem nunca pode por si próprio reparar seu erro, Deus pela obra de Jesus Cristo, resolveu reparar a natureza corruptível de todo homem que crê.

“Porque, assim como pela desobediência de um só homem muitos foram constituídos Pecadores, assim também pela obediência de um, muitos serão constituídos justos”. Romanos 5:19

“Porque, se com a tua boca confessares a Jesus como Senhor, e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, será salvo”; Romanos 10:9

E o bom é que a nova ordem não é, faça isso e aquilo, ou não faça isso ou aquilo se não não será salvo. A salvação é dada por graça “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé, e isto não vem de vós, é dom de Deus”; Efésios 2:7. De uma coisa não duvido, se o futuro da nova criação dependesse de nós, cairíamos novamente.

Meu desejo é que todos que tem filhos pensem no que realmente importa. As vantagens do mundo nos afastam de Deus, ainda que seja o pirulito, o vídeo game, o passeio, isso leva as crianças para longe do coração de seus pais, e cada vez mais para a ilusão da recompensa por obras, um empecilho para a fé, e algo contra o que foi determinado por Deus e vale para todos:

“Vós, filhos, sede obedientes a vossos pais no Senhor, porque isto é justo. Honra a teu pai e a tua mãe (que é o primeiro mandamento com promessa)” Efésios 6:1-2. E a promessa era para que te vá bem e se prolonguem os dias sobre a terra.


P.S: A história inicial é fictícia, embora muito conhecida.