quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Eu perdi o mundo para ganhar vida




Adolescente é rebelde. Não sei quem determinou esta premissa. O ser humano é rebelde em qualquer geração. Nascemos como uma semente do pecado que só tende a produzir pecados. Nascemos com o “livre-arbítrio” para decidir qual a menos pior das escolhas erradas que nossos corações desejam tomar. A Palavra de Deus fala que “Não há ninguém que entenda; Não há ninguém que busque a Deus”. (Romanos 3:11).

Meus 30 anos se aproximam, ainda estou longe de me considerar uma pessoa madura, mas minha adolescência está cada vez mais longe. Foi a época mais triste da minha vida, e hoje vejo que foi o período em que Deus trabalhou muito em mim. Assim como o Senhor Jesus encontrou o Apóstolo Paulo a caminho de Damasco, Ele me encontrou em algum canto nos arredores dos muros da minha casa de onde eu quase nunca saia. 

Uma vez me disseram: “Deus tem uma obra muito grande na sua vida!” Achei uma frase pronta tão óbvia. Nesse mundo religioso é muito comum ouvir esse tipo de coisa, e geralmente quem diz não quer dizer nada, ou até quer dizer, mas não sabe o que. Outra frase muito comum é “hoje é dia de vitória”, mal alguém adoece e alguém já profetiza a cura. 

Quando eu era adolescente Deus me tirou do mundo. Fiz mais ou menos o caminho inverso de Paulo, mas depois explico o que quis dizer com isso. Eu fui uma menina muito triste, abatida, por que eu não podia fazer o que todos os jovens da minha idade faziam. Eu não passeava, não ia à casa das amigas e nem podia trazê-las até a minha casa, não participava das excursões da escola, não fazia as aulas de Educação Física, pois eram fora do horário escolar normal, e ter que sair de casa para as aulas normais já era um tormento para aqueles que zelavam (demais) por mim.

Eu não tinha forças para me rebelar. Poderia ter feito como o pródigo, pegar minhas coisas e sair de casa, como algumas colegas fizeram por muito menos, ou tão menos semelhante. Mas a ideia do “EU NÃO POSSO” que no principio eram ditas por terceiros, depois virou uma ladainha interna, tudo que eu via, sentia, queria eu não podia. Era uma lei. Coisas boas eu também achava que não podia: continuar a estudar, trabalhar, ir até o supermercado da esquina comprar refrigerante como eu fazia na infância, eu não podia.

Era horrível. Meus anos escolares foram para mim o céu e o inferno. O céu porque era o único lugar fora de casa que eu frequentava, o único lugar onde eu podia tentar esquecer de mim um pouco, e conviver com outras pessoas. Foi um inferno, porque eu não sabia ser como as outras pessoas, eu não gostava mais das mesmas coisas que as outras pessoas, eu comecei a perceber que existiam coisas muito mais importantes que eu necessitava e não tinha e que eu os via desperdiçar. Isso dificultava a convivência. 

O último ano escolar foi o ápice do meu desespero, chorei feito uma condenada, pois imaginava que nunca mais sairia de casa para nada, nunca mais poderia encontrar minhas colegas, via um mundo de isolamento a minha frente.  Por alguns dois ou três anos meu sofrimento foi ameno porque uma amiga se esforçava para me fazer companhia sempre que podia, ela vinha em minha casa e ficávamos no quintal porque eu acreditava que ela não podia entrar; pelo menos ninguém nunca a convidou para tal, eu que não me atreveria!

Depois foi outra choradeira, pois ela anunciou que iria se mudar para o interior de São Paulo junto com sua família, aí foi o fim. Após a mudança, acho que ela veio uma ou duas vezes me visitar depois nunca mais. E foram longos oito anos de solidão. Mas qual era o meu problema afinal? Podem estar se perguntando. Deus estava usando as circunstâncias para me salvar, um pequeno problema de saúde acabou tomando uma proporção imensa no inconsciente coletivo que acabou achando que aquilo era o fim do mundo, e arruinaram todas as minhas chances de crescer em circunstâncias normais, e hoje vejo que isso foi uma grande benção para mim! 

Longe das prevaricações, longe das prostituições, longe da ganância torpe, das vãs sutilezas, da religião dos homens, longe do mundo, Deus aos poucos foi colocando Seu Filho Jesus diante e dentro de mim. Alguém que morreu na cruz, que foi entregue para ser condenado em meu lugar, eu realmente tinha motivos para chorar feito uma condenada, pois era exatamente isso que eu era naquela ocasião. Deus por infinita misericórdia arranjou um substituto, e aceitou Seu sacrifício ressuscitando dentre os mortos e ascendendo-O aos Céus.

Poderia ter sido de outra forma, mas louvado seja Deus, dou graças por poder compartilhar com alegria qual foi a forma que Ele escolheu para me trazer para Si! Quando eu achei que não tinha saída, que não podia mesmo fazer nada por mim nem por ninguém, que Ele veio e disse: “A minha graça te basta”, pois o seu poder se aperfeiçoa nas fraquezas (2 Coríntios 12:9). Foi aí que eu disse ter feito o caminho inverso de Paulo, pois tudo que eu havia reputado por perda, todas as amizades, passeios, excursões, trabalhos, estudos, tudo foi ganho para mim, tudo que me fez falta naquele momento foi extremamente recompensado pela graça que eu ganhei em Cristo Jesus Nosso Senhor!

O Apóstolo Paulo que era um judeu zeloso tinha aparentemente muito a perder, uma reputação entre os seus, etc, ele renegou tudo por causa do vitupério de Cristo. Eu que achei que já tinha perdido tudo, descobri que saí ganhando no final das contas, sem saber estive no caminho de Moisés que preferiu “antes ser maltratado com o povo de Deus, do que por um pouco de tempo ter o gozo do pecado;” Hebreus 11:25. 

Graças a Deus por minha mãe e minha irmã que me acolheram e proveram todas as minhas necessidades materiais e físicas, meus colegas que me auxiliaram nos momentos mais delicados, aos que se afastaram Deus os guarde em Seu infinito amor, aos que permanecem que Deus permita que eu possa demonstrar minha gratidão por eles terem podido ser usados como vasos para honra do Senhor! Aos que vieram depois disso, bem-aventurados irmãos!

Deus realmente pode ter uma obra em nossas vidas: “O Senhor não retarda a sua promessa, ainda que alguns a têm por tardia; mas é paciente para conosco, não querendo que alguns se percam, senão que todos venham a arrepender-se.” (2 Pedro 3:9). Resta agora que no grande dia do Senhor todos possam estar entre os que se arrependem e não entre alguns que se perdem.

Porque ainda um pouquinho de tempo, E o que há de vir virá, e não tardará. (Hebreus 10:37)